domingo, 4 de maio de 2008

Leituras em Diagonal

“Mestiço de corpo inteiro” de Delmar Maia Gonçalves

Os poemas deste livro abordam uma questão que, para muitos, nunca encontrará uma solução ideal, que é o da condição de se ser mestiço. Um problema que tanto a boa como a má literatura não poderão ajudar a resolver, mas somente a enunciar. Porque as ideias e as emoções que recebemos de leituras diversas poderão alterar os “quadros do nosso consciente, mas nada poderão fazer a nível do nosso inconsciente. E esse inconsciente, quando colectivo, vincula-nos a uma identidade de grupo.
As defesas do inconsciente colectivo tem por base linhas de divisão infracturáveis. Não há espaço para uma terra de ninguém, porque, quem não é como nós, é contra nós. “E da palavra raça/nascerão o ódio e o medo”, escreveu o poeta Nuno Bermudes exprimindo duma forma sintética a profunda divisão que se alberga no coração do homem.
As pontes para ligarem as pessoas que, à partida habitam mundos diferentes, são sempre de carácter transitório.
Nas alturas decisivas elas voltam a fechar-se nos mundos a que pertencem. E é vedada ao mestiço a liberdade de escolher um desses mundos por aqueles que entendem ser os seus legítimos habitantes: “Quando tu/ irmão branco/ de coração umbiguista/ me procuras insultar/ chamando-me preto/ só me dá vontade de rir,/ rir de tristeza/na tua cara/sem nunca mais parar!/ Quanto a ti/ irmão negro/ de coração libertino/do tamanho da África/ quando me procuras/ofender/ chamando-me/ misto sem bandeira/ dá-me vontade de chorar/chorar eternamente...” E duas das supostas linhas de separação entre o mundo branco e o mundo negro transparece na carga adjectiva de alguns versos: “Irmão branco/ de coração umbiguista”, indicam o auto-convencimento duma superioridade inata como característica principal dos homens de tez clara, e os que referem o “Irmão negro/ de coração libertino”, apontam para dois sentidos diferentes, sendo um positivo e o outro negativo. O Positivo, que entendemos ser também o do autor, indica a consciência de que os africanos começam a reflectir livremente sobre si mesmos, libertos das peias do paternalismo dos brancos. O negativo situa-se na equação, fácil de se aceitar, entre uma epiderme escura e uma forte carga de sensualidade.
O Delmar é um poeta que escreve como quem reflecte. Que tem sérias dúvidas sobre a qualidade da linguagem que pratica: “Nem a minha/ engenharia cerebral/ pensadora e reflexiva/nem a minha/mais humilde gramática/ chuabo/ conseguem encontrar/ resposta lógica/e racional” para o problema X. Para o problema Y, que poderá ser o da questão racial, também não poderá encontrar nenhuma resposta convincente e definitiva. Mas ao lembrar-nos de um modo persistente que o problema existe mantém de sobreaviso as nossas consciências.


Jorge Viegas
(Poeta e Escritor Moçambicano)
“À tua passagem
Ficou o olhar
Rasgado daqueles que
Procuram o mar...
Ficou o iodo
Pronto a alimentar
Um começo...
Ficou o teu riso
O teu medo
Ficou
A música das palavras
Dançando
Solta, rebelde
Numa boca entreaberta.
Bem haja!”

Gabriela
(Professora de Língua Portuguesa e Língua Francesa)
“Grito.Garra.Verve rimada, cascata de sentimentos.”

Carlos Gil
(Escritor e Poeta Luso – Moçambicano)
Lisboa, 9 de Maio de 2005.
Excerto do discurso improvisado do senhor Embaixador Miguel Mkaima, no lançamento do livro “Moçambiquizando” de Delmar Maia Gonçalves:
“Talvez a missão dele como Moçambicano, seja a de mostrar aos outros moçambicanos como devem ser moçambicanos.”

Dr. Miguel Mkaima
(Embaixador da República de Moçambique em Portugal)
Discurso integral improvisado do Senhor Embaixador António Matonso, na cerimónia da recepção do galardão “África Today” de Literatura em representação do escritor premiado Delmar Maia Gonçalves:

“Muito obrigado a “África Today” pela distinção a este jovem poeta Moçambicano.
Um jovem poeta promissor, que se inspirou na tradição (ele é da Zambézia), na tradição poética Zambeziana e por outro lado na história, a história daqueles que foram dignos representantes do proto-nacionalismo moçambicano. Falo dos poetas José Craveirinha e Noémia de Sousa.
Eu penso que este prémio é muito bem merecido.
Este jovem talentoso que escreve muito bem, que sabe como bom zambeziano retratar os sentimentos, as paixões, os sofrimentos.”

Dr. António Matonso
(Embaixador da República de Moçambique na República de Angola)

Prefácio do livro "Mestiço de Corpo Inteiro" de Delmar Maia Gonçalves por André Corsino Tolentino


O autor pediu-me um prefácio, fui ver o meu amigo Houaiss e pus-me a escrever este breve texto de apresentação do quarto livro de poemas do Delmar, com algumas explicações sobre o conteúdo, os objectivos e este crioulo da Zambézia tão activo que torna a selecção do que sobre ele dizer uma tarefa ao mesmo tempo desafiante e gratificante.

Não sei quanto as pessoas devem às circunstâncias do nascimento, o nome que um dia lhes deram ou o dia em que vieram ao mundo. O que tenho por certo é que, não vamos longe, em Castela e em Quelimane, o autor é do mar que nos transcende, filho de europeu e de africana, uma condição que o empurra na direcção do outro, e nasceu no dia D do meu Cabo Verde, 5 de Julho, 1975 para este e 1969 para aquele, seis anos de diferença.

Como se estas coincidências não bastassem, o autor e eu temos em comum o interesse pelo saber, a identidade pessoal e colectiva, as pessoas e o accionalismo, cujo princípio explicativo, segundo Alain Touraine, é a historicidade, isto é, a capacidade da sociedade agir sobre si própria pelo trabalho e pelas relações de classe. É o que me parece resultar do seu activismo estudantil, católico, docente, artístico e literário.

Às vozes ancestrais que murmuram na diáspora a tristeza de não podermos ser nós, o autor responde na dança da alma que resulta do negro e do branco, nem melhor nem pior, ponto final. E que em Moçambique novo, prossegue, estamos a construir uma nação de várias nações numa simbiose ímpar. Depois vêm a identidade nacional, a condição da mulher africana, o ecumenismo religioso, o amor, o sonho e a fraternidade, que compõem este belo livro de Delmar Gonçalves que li com prazer e recomendo com muito gosto.

Sim, há mais de dois mil anos, Lúcio Séneca terá dito que nenhum vento será favorável a quem não saiba a que porto se dirige. Será. Mas Delmar descobriu o caminho da fraternidade e da luta e, assim sendo, ao vento não será difícil ajudá-lo. Nem a nós, que podemos simplesmente adquirir e saborear a sua poesia do mar da mestiçagem humana.

Professor Doutor
André Corsino Tolentino
(Diplomata e Político Caboverdiano)
Lisboa, Outubro de 2006

Moçambique novo, o enigma

"Moçambique novo, o enigma" é a voz que denuncia a indiferença pela dor alheia e simultaneamente anuncia a esperança.
Desta forma, o léxico transporta uma sonoridade que constrói o corpo social de afectos de um povo.
Na verdade, Delmar exprime na leveza da pena a profundidade da natureza da relação afectuosa do Homem com a Terra. O poeta profeta desnuda a hipocrisia humana na singeleza cristalina de uma linguagem que desponta na poesia deste século.

Isabel Carreira
(Artista Plástica, Professora de Literatura Portuguesa e Inglesa e Mestre em Relações Interculturais)
Brasileira-Chiado 07/01/2006
“É uma constante encontrar nos poemas de Delmar toda uma série de sentimentos, observações, ânsias, desejos que através do seu olhar crítico e sensível nos leva a cogitar sobre a vida, sobre o nosso semelhante e sobre nós próprios.”

Susana Alves
(articulista da Revista “Lusofonia” e Licenciada em Relações Internacionais)
“Delmar desperta-nos para a consciência humana que tanto nos faz falta hoje em dia...”

Susana Alves
(articulista da Revista “Lusofonia” e Licenciada em Relações Internacionais)
“Nos poemas de Delmar, percebemos o quanto ele se preocupa com os outros, sejam seus irmãos de Moçambique, de Cabinda ou de Timor, da Palestina ou do Tibete, de Israel ou do Congo, da Serra Leoa ou do Afeganistão, da Colômbia ou do Iraque, da Libéria ou do Uganda, sejam as crianças, os heróis ou os amigos mais ou menos anónimos.”

Paula Ferraz
(professora de língua portuguesa e escritora)
“É tão bom escutar a voz dos jovens, sobretudo quando essa voz é força de amor, justiça sonhada, verdadeira poesia.”

Matilde Rosa Araújo
(Escritora)
O Delmar apresenta temas simples mas profundos, aparentemente comezinhos mas fortes e as palavras escolhidas ao sabor da emoção, da consciencialização dos problemas que o cercam vão tentando dar-nos todos os cambiantes da consciência humana, que são mais vastos que um floresta tropical".

Paula Ferraz
(professora de língua portuguesa, escritora, investigadora, dirigente do espaço Rui de Noronha)
"O autor como que João Baptista a pregar no deserto identifica-se porta-voz involuntário de uma situação que se gerou e acusa sem identificar o responsável"

Lívio de Morais
(artista plástico, professor de história da arte e mestre em História de África)
"O autor assume a filosofia espiritual de São Francisco de Assis, como mensageiro da harmonia, paz e concórdia"

Lívio de Morais
(artista plástico, professor de história da arte e mestre em História de África)

Sobre o autor

"Uma vontade gritante de dar sentido à mestiçagem".

Rita Pablo
(Jornalista da Revista "África Today" e Expresso Online)