quarta-feira, 13 de maio de 2009

Moçambiquizando


Numa tarde de Sábado, Março entrado, caía o sol que iria acordar no horizonte, indo bailar do outro lado do Mundo, o Palácio das Galveias abriu portas para receber um grupo de amigos que iam ver poesia.

Delmar Maia Gonçlaves era o anfitrião mas também o homenageado. Quis partilhar, com o seu público, a sua poesia, as suas palavras-sentimentos, as suas verdades-alegres e verdades-dolorosas.

A criação lietrária é sempre passível de ser analisada, escamoteada, esquartejada pelas teorias literárias, mas acima de tudo, deve ser sentida, porque é criação e criação é poesia.

Olhar o autor é rever o seu percurso de pessoa, mas o autor apaga-se para deixar nascer vários sujeitos poéticos, que brincam com palavras, que reflectem pensamentos-ideais.

A racionalidade nem sempre é compatível com os sentimentos, contudo, a regra faz as excepções,
as construções enigmáticas da verdade ganham contornos de realidades concretas. Os percursos são diversos, os caminhos são rectos ou tortuosos, são sombrios e ténues nas suas fronteiras. O sonho enraiza-se nas profundezas so ser, os versos soltam-se do seu dono, ganham um espaço novo e novas tonalidades.

Pelas páginas do Moçambiquizando elabora-se um topografia de países, cidades e outros lugares, de nomes, de crenças, de meninos e donzelas, de heróis e de desconhecidos, de razões e desconexões, de improvisos e de sábias doutrinas não reconhecidas.

Como diz Alexandre Honrado, no prefácio do livro, sobre a poesia de Delmar "há uma tão estonteante e sábia crítica, uma agressividade que nunca comete agressão, uma exaltação que nunca é raiva, uma apreciação que é mais discernimento, uma pátria a bulir por dentro que não contém uma só fronteira..."

Das palavras finais do autor pode reter-se que a sua escrita revela a sua "enorme inquitação sobre os desafios do futuro", que a sua vivência é o "exercício pessoal da [sua] moçambicanidade" e que "quando as causas são nobres não devemos duvidar nunca".

Os acordes de timbíla ressoam pela sala, batem corações, revivem Moçambique num abraço moçambicanizando numa encruzilhada de palmas e vozes.

Nota: não se fazem comentários literários com emoções, não se fazem em primeira pessoa, não se contam os pormenores das apresentações, não se deve tocar nos sentimentos do público. Leia-se, por isso, esse comentário acreditando que vale a pena ler a poesia do Delmar para descobrir novas significações, novas entradas em Moçambique, sem ser sempre pelo Índico.

Paula Ferraz
Lisboa, 30 de Maio de 2006
in web www.africamente.com

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