terça-feira, 20 de outubro de 2009

À Guisa de apresentação

Os textos de Delmar Gonçalves, presentes nesta antologia ("Verbum" da Editorial Minerva), deixam ver alguém preocupado com o seu semelhante, com as injustiças deste mundo que é o nosso, com o sofrimento dos irmãos, sejam eles quem forem, estejam eles em que hemisfério estiverem.
A solidariedade com o povo que sofre(u) os horrores de uma luta pela sobrevivência, pela integridade, pela independência e pelo direito a existir enquanto nação-mátria, fazem-nos reconhecer que, estejamos em que latitude estivermos, poderemos ser sempre um elo de ligação, um ancoradouro, uma ilha de tranquilidade.
Delmar revela, de uma forma pensada/sentida, frontal e emocionada, o dilema de alguém que busca a sua identidade, que sofre a dicotomia do negro e do branco, de alguém que tenta aproximar-se de um dos pólos mas que se sente rejeitado e/ou inconformado.
Nem sempre as escolhas são fáceis, nem sempre são aquelas que parecem mais coerentes, mas, muitas vezes, são as possíveis, fruto de uma série de contingências e circunstâncias. Delmar adia o seu regresso a Moçambique, porque outras amarras o sustêm, outras "terras" o acolheram e prenderam.
Apesar de em cada dia sonhar com o regresso, este vai sendo empurrado ad eternum.
Com os seus textos, Delmar faz-nos (re)pensar a nossa própria existência, os nossos valores, as nossas prioridades, com uma linguagem simples (como ele próprio), mas muito emotiva; consegue transmitir vivências diferentes, despertar sentimentos (às vezes adormecidos), colorir os nossos espaços, dar sentido a (alguns) nossos pensamentos.



In Antologia "Verbum" - Editorial Minerva, Lisboa, 2004.
Paula Ferraz
(Professora de Língua Portuguesa)
Paço de Arcos, Fevereiro 2004.

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