Delmar na escrita denuncia, por um lado, um Moçambique novo e por outro uma vontade gritante de dar sentido à mestiçagem. Faz parte de uma série de associações contra o racismo, de ajuda aos talentos moçambicanos, à imigração, entre outros.
A religião ocupa um lugar primordial e a procura pelo ecumenismo é um dos seus objectivos. Um escritor e um professor preocupado com as causas alheias e que transporta consigo o seu maior enigma, Moçambique.
Delmar Maia Gonçalves nasceu em Quelimane a 5 de Julho de 1969 e chegou a Portugal no final de
A adaptação foi complicada «tinha uma vida boa com muitos amigos e até jogava futebol, quando cheguei aos 18 anos, tive de começar tudo de novo». Acabou o secundário e chegou a pensar em ser padre, chegou mesmo a fazer teologia, mas depois acabou por desistir, porém a religião continua a fazer parte da sua vida. Hoje em dia é escritor e professor do Primeiro Ciclo do Ensino Básico no Bairro Padre Cruz, para além de fazer parte de numerosas associações, todas elas com propósitos diferentes.
«Quando estava em Moçambique fazia parte da juventude moçambicana e quando cheguei tentei integrar-me e fi-lo através das associações» a primeira, da qual fez parte, foi a Casa Humana que é uma associação social e urbana onde o presidente achou que o escritor podia contribuir na área da imigração, através da sua experiência pessoal. Depois envolveu-se com a Resistência Timorense, quando «muitas pessoas já achavam que a causa estava perdida», criou boas relações inclusive com Roque Rodrigues, actual Secretário de Estado da Defesa de Timor e conseguiu mobilizar apoios, livros, faxes, telefones, etc.
No que respeita ao SOS Racismo, esta teve como ponto de partida a sua própria experiência pessoal. «Os professores repetiam que eu era moçambicano, pediam que eu partilhasse a minha experiência e elogiavam o meu trabalho e os meus colegas reagiam mal. Uma das vezes disseram-me para eu ir para a minha terra e isso marcou-me». A partir daí começou à procura de pessoas a quem já lhes tinha acontecido o mesmo e encontrou imensas, houve quem tivesse ouvido o mesmo tipo de provocação e o pior é que era um português.
Faz parte também de um Centro Cultural Luso-Moçambicano a convite de Lívio Morais, para divulgar a cultura moçambicana e vice-versa, porque «a percepção que antes se tinha dos moçambicanos que viviam cá é que eram antipatriotas, até que o Lívio foi lá mostrar o trabalho dos imigrantes».
No que respeita às questões religiosas, houve uma Federação Internacional Inter-Religiosa que o convidou para ser Embaixador da Paz onde «trabalhei para o ecumenismo porque isso é importante para a integração».
“Na minha Pátria/ não há pretos nem brancos/ há moçambicanos”
A literatura e a sede de escrever sobre as coisas que conhecia e sentia, foram desde pequeno, uma realidade. Em Moçambique já fazia as suas tentativas a nível literário e lia os seus escritores de eleição, tais como: José Craveirinha, Noémia de Sousa (esta que antes de falecer insistiu com Delmar que publicasse um livro), Eça de Queirós, Cesário Verde, Bocage, entre outros. Em 1982 escrevia poesia e uma das suas alegrias era «quando via o meu nome nas revistas de Moçambique, isso motivava-me muito». Na altura que frequentou as escolas portuguesas resolve mostrar o seu trabalho às professoras e estas incentivavam-no, ao ponto de uma delas o convencer a enviar as poesias para o Concurso Nacional de Literatura Ferreira de Castro, que ganhou. Depois desse, muitos outros prémios somaram-se, o Cancioneiro Infanto-Juvenil para a língua portuguesa no Piaget, da Rádio Havana recebeu uma Menção Especial, foi convidado a fazer parte do Júri das Nações Unidas (FNUAP) para um Concurso de Cartazes, e venceu um outro da Comunidade Moçambicana em Portugal.
Escreveu muitos livros em conjunto, destacam-se: Poeisis, Viola Delta e Cadernos Moçambicanos.
A mestiçagem é um tema ao qual Delmar dá especial enfoque, pois acredita «que é o futuro da humanidade, principalmente com a globalização» e é um assunto que os escritores mais velhos não podiam falar, era tabu «na altura podias ser mestiço, mas tinhas que te assumir como negro».
Artigo de Rita Pablo
In Revista “Africa Today”
Fevereiro 2006
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