sábado, 22 de agosto de 2009

"Mas é doce morrer nesse mar de lembrar
e nunca esquecer
Se eu tivesse mais alma para dar, eu daria
Isso pra mim é viver"
Djavan

Um Pensamento Solar para Moçambique

Pensar que um país se reduz às suas fronteiras naturais e geográficas, torna-se nos dias que correm, um pensamento sufocante, superficial e pouco verdadeiro. Nos gestos escritos que esculpem memórias, vivências deixadas no país de origem, os nomes das paisagens que não se esquecem, os rostos que habitam as nossas identidades, emerge a força que as palavras possuem e rasgam no papel, divisões e distâncias. Os "Cadernos Moçambicanos Manguana" são a prova de que Moçambique renasce e se elasticiza, para além de uma história que nos diz desta terra como só existindo no continente africano. Mas, esta estória é falsa, e parcial. Ao caminhar ao longo de cada poema, de cada texto de que género seja, compilados neste recanto de vozes humanas, escutam-se os acordes de maturação, reflexão, e encanto que pensam Moçambique.
Aos que optaram por ficar, não obstante, os tempos turbulentos do pós-independência, deixa-se sempre uma recordação do antigamente, do que era e já não é. Para aqueles cujas opções de vida abriram portas para uma saída, para a escola da diáspora, e para o exílio nostálgico da solidez da terra natal, fica a espiritualidade, o desassossego, a enorme vontade de erguer pontes de diálogo, compreensão, ternuras e solidariedades.
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É neste tecitura de gestos sólidos, de escritas que tecem coreografias sobre narrativas de vida e de identidade, que os "Cadernos Moçambicanos" exercem o seu maior papel, trazer para a luz do dia, para o terreno da pele mais nobre e humana, que Moçambique vive e pulsa em cada sentir, em cada olhar, em cada sonho que erguemos ao despertarmos para um novo dia de afazeres e desafios. Enfim, fazer aquilo que o Mais-Velho Craveirinha, hoje, se estivesse vivo, embevecidamente observaria, que a Nação que ele, poeticamente, sonhou, é maior que o Rovuma e o Maputo juntos.


Sheila Khan, uma moçambicana na diáspora
Knutsford, 19 de Outubro de 2006.

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