terça-feira, 26 de março de 2013

«Viola Delta volume XLIX – poemas sobre África e outros textos»


 

Para festejar os 35 anos dos Cadernos de Poesia Viola Delta, iniciados em 1977, surge este novo trabalho poético. Trata-se de um livro colectivo com poemas de quinze autores: Al Aarão, Alberto Martins Rodrigues, António Cardoso, António Salvado, Armando Taborda, Carlos Domingos, David Mestre, Delmar Maia Gonçalves, Fernando Grade, Fernando Pinto Ribeiro, Júlio-António Salgueiro, Luís Filipe João, Luísa de Andrade Leite, Manuel Ramilo Salgueiro e Maria Almira Medina.
Não se trata apenas de juntar poemas de 15 poetas em livro. Há sempre algo mais – História e Memória, ambas vivas. Todos os autores trazem uma nota de apresentação; por exemplo na ficha de Alberto Martins Rodrigues (1950-1986) escreve Fernando Grade: Do «I Encontro dos Escritores Portugueses», realizado em 1975, um dos grupos de trabalho emergentes foi a Comissão para Publicação de Autores em Editor: Afonso Cautela, Fernando Grade, Hermano Neves, João de Melo, José Correia Tavares, Júlio Conrado e Serafim Ferreira. Desta pró-literária (ou a-literária) salada russa salpicada de molho tártaro e beirense, acabou por não sair qualquer coelho da cartola real ou fictícia. Até porque o «25 de Abril» foi estrangulado pelos vendilhões do Tempo… Era alentejano de mais para ser sorvido pelos janotas analfas do Chiado. Os perfumadinhos encharcados em dólares (marados ou não). Os capados da alma.»
David Mestre (1948-1998) foi viver para Luanda com 3 anos, jornalista e poeta, desertou do exército português em Angola e foi preso em 1971 para ser libertado em 1974. Começou a publicar em 1973 e além de livros de poesia publicou crónicas e ensaios.
Júlio-António Salgueiro (1943-1975) foi um dos fundadores do Movimento Desintegracionista em 1965 e em Luanda escreveu o poema «Movimento da Terra»: «Depois da morte como depois da tua vida / Não procures o significado oculto da rosa apodrecida / Aonde queres chegar tens que partir só na tarde negra / Que zumbe na temperatura do grande verão / No centro da esfera de luz que se move em movimento / E não te prendas com o que não é há muito esperado / Não olhes a paisagem porque não é paisagem única / A ninguém interessa se estás contente e a águia desce / A prumo e cada átomo do teu corpo refaz o mundo / Na sua totalidade escuta há grandes intervalos / Que devem ser preenchidos entre a vida e a morte».
(Edições Mic, Ilustrações: J. Leitão Baptista, Júlio Gil. Nadir Afonso)

José do Carmo Francisco 
in Gazeta das Caldas