domingo, 27 de julho de 2008

"África d'ontem"

Delmar, dedicado a ti, conterrâneo e pensando nos teus ancestrais africanos!

Moreno amigo,
Tens alma de sede...
Sede de saber,
Sede de ouvir,
Sede de falar,
Sede de aprender,
Sede de criar,
Sede de gritar!...
Oh!... África minha!...
Onde estás?
Como estás?
O que sentes?...
Sopra um vento,
Um vento NORTE!
Solta cabelos negros
Leva tudo....
levou tudo...
Há brisa leve e suave,
Mas os corações batem,
Os corações lembram,
Os corações choram.
Onde estás ÁFRICA?
Eras raiz...
Raiz de palmeira
Que o vento colheu!...


Gracinda Leão
(professora)
Nante/Quelimane 10/02/2004

Uma Liberdade fustigada pela cor do sangue

Uma Liberdade fustigada pela cor do sangue
Derramado no interstício silencioso
Do eco da Palavra.
Uma Liberdade que oprime e restringe
O que a língua unifica.
Laivo negro preso num verso em branco,
Opróbrio anelante numa página branca.

Será mais poderoso a palavra impressa,
Ou a página branca pungente e perversa?

Uma harmonia impetuosa, revolta em saudades etéreas...
Imagens lúcidas resguardadas, irrompem
E dissipam o silêncio...
Os segredos assomam-se neste mundo
Que regozija de lúgubres murmúrios...

O véu deambulatório não permite o olhar
Para além de um frágil e tímido horizonte
Restringido por palavras desmesuradas.

Delmar, del Sol desemaranhado das palavras sentidas e agouros,
Canta e grita até que o verso se confunda com o sopro do vento
E agite e aclame a tua voz...

O teu verso transpõe a debil barreira que o mundo austenta.
A tua imaginação cria o poema,
Revelando a essência exaltada pela ambição de uma cor que não existe!
Haverá cor para a dor, para a superioridade, para o escravo, para o olhar de soslaio...

Perpetua sempre o eterno numa estrofe límpida e perfeita
O sonho convicto da esperança guardada algures na tua mão.
Jamais ilusório, amanhecerá no teu rosto, irmão,
E espalhará a quem o quiser sentir, reflectir ou simplesmente ouvir
De mãos dadas irmãos de sangue...

Não sou ninguém, não és ninguém
Ambos pertencemos ao mesmo mundo, o do além...
Desembaraçado de fronteiras e cores...

Deixa-me o apanásio de poder honrar-te,
Apraz-me dizer-te, que do Mar ou do Sol
Hás de sempre erguer-te...

A Liberdade está dentro de ti,
Presa a cada palavra que a emoção transcreve pelo teu olhar...
Delmar Maia Gonçalves, poeta, amigo, irmão...


Valter Pereira (Poeta, Escritor e Professor do Ensino Básico)
nota introdutória ao livro "Entre dois rios com margens" (no prelo)