quinta-feira, 27 de agosto de 2009

Discurso Integral de Lívio de Morais

Discurso Integral de Lívio de Morais na apresentação do livro "Moçambique Novo, o Enigma" , no Palácio Galveias

Permitam-me que tome a palavra "Ex-professo" (como quem conhece a fundo a questão), na qualidade de privilegiado que sou:

1º Porque Delmar e eu próprio, somos naturais da mesma província de Moçambique, a Zambézia.

2º Delmar Maia Gonçalves é meu afilhado muito amado.

3º Esta publicação tem o apoio simbólico do Centro Cultural Luso-Moçambicano, de que sou fundador, e que Delmar Maia Gonçalves é membro fundador desde o 1º dia.

Apresento-me aqui, expressamente convidado pelo autor como autor da imagem da capa deste livro. Também creio que o Delmar convidou-me para estar nesta mesa, pela experiência de eu ter editado três livros e, na qualidade de presidente duma associação moçambicana, o Centro Cultural Luso-Moçambicano que apoiou o livro.

Epicuro disse: " Ex nhilo nihil" ou seja, de nada, nada, precisamente o que um dia disse Lavoisier: Nada se perde, tudo se transforma na natureza.

De facto, criador absoluto é unicamente Deus, e toda a criatura transforma esse manancial do universo criado.

Esta obra de Delmar Maia Gonçalves, faz parte desse universo recriado, fruto da imaginação criadora.

A obra: Moçambique Novo: O Enigma, não passa pela afirmação de Tertuliano que disse "Credo, quia absurdo" ou seja, acredito porque é absurdo.

De facto, Delmar Maia Gonçalves corajosamente afirma "sponta sua", isto é, por iniciativa própria, Moçambique Novo, O Enigma, porque de facto a África é um enigma com os seus mitos e ritos ancestrais que o Ocidente não foi capaz de decifrar em 500 anos de domínio.

Por isso mesmo a escritora Noémia de Sousa continua a dizer:
"Se me quiseres conhecer,
Estuda com olhos de ver
Esse pedaço de pau-preto
Que um desconhecido irmão maconde
De mãos inspiradas
Talhou e trabalhou
Em terras distantes lá no Norte.

Ah, essa sou eu..."

Esta obra poética de Delmar Maia Gonçalves, é também esse pedaço de pau preto.

Ler estes poemas, é aceitar o convite para conhecer Moçambique Novo caracterizado de toda a carga de consequências do tempo colonial e dos trinta anos de independência que estamos a celebrar neste mês de Junho.

"A vol d'oiseau" (a voo de pássaro ou muito por alto), dir-se-ia Moçambique Novo é realmente novo, porque é independente: Pedra a Pedra vai construindo o novo dia, graças a milhões de braços concentrados numa só força, gritando: nenhum tirano nos irá escravizar.

Esta obra poética foi fruto de audácia do autor, no dizer de Virgílio em Eneida X, 284: "audaces fortuna juvat".

Com efeito, Delmar Maia Gonçalves colhe os frutos maduros da sua audácia de tal forma que a dois dias do glorioso dia do 30º aniversário da Independência de Moçambique lança a sua obra.

E, se considerarmos a situação de Delmar como jovem de 36 anos, no ensino, não ignoramos todas as dificuldades e circunstâncias da gestação desta publicação, ou seja, o quis (quem), quid (quê), ubi (onde), quibus auxilium (por que meios), cur (porque), comodo (como) e quando (quando)."

Também importa recuarmos no tempo até 5 de Julho de 1969, e tentarmos associar esta data com curiosas circunstâncias.

Em 1969 foi Prémio Nobel da Literatura o Poeta, Romancista e Dramaturgo Irlandês, Samuel Beckett (1906-1989), pai do teatro do absurdo, autor da peça "En Attendant Godot" (À Espera de Godot). Escritor com estilo de ironia amarga: foca contraste entre a esperança e a realidade.

Em 1969 a 7 de Julho, dá-se a catástrofe do Biafra com milhões de vítimas.

Em 1969 a 9 de Julho, Ernesto Che Guevara é preso e abatido.

Em 1969 a 3 de Dezembro, Dr. Christian Barnard efectua na Cidade do Cabo o 1º transplante cardíaco num humano.

Queiramos ou não 1969, internacionalmente é um marco que parece não estar despercebido por Delmar Maia Gonçalves, como ano natalício.

Finalmente, vou fazer especial referência aos poemas: mas queria lamentar o facto de só esta semana ser possível conhecer o extracto do livro.

Foram-me entregues 16 fotocópias com poemas do livro, logicamente não posso e nem devo fazer uma crítica do livro como desejava.

De qualquer forma, tive a capacidade de entre as 16 fotocópias seleccionar 3 poemas, que passo a comentar:

1- Em NÃO SOU MAIS EU... poema de 2003, o autor como que João Baptista a pregar no deserto identifica-se porta-voz involuntário de uma situação que se gerou e acusa: "injustiças cometidas no passado, perdas ancestrais e pequenas vitórias alcançadas na vida." O autor não identifica o responsável, nem se identifica como sendo o acusador, apenas, diz:"Não sou mais eu..."

A título comparativo reportemo-nos a obra de Fernando Pessoa, e encontramos em "Eu Fragmento" a mesma atitude de enigma:

"Não sei quantas almas tenho
Cada momento mudei
Continuamente me estranho
Nunca me vi, nem achei.

Não sei quem sou, que alma tenho.
Quando falo com sinceridade
Não sei com que sinceridade falo.

Meu Deus, meu Deus, a quem assisto?
Quantos sou? Quem é eu?
O que é este intervalo
Entre mim e mim?"

2 - Em URGÊNCIA DAS PAZ PERPÉTUA, poema de 1988, o autor assume a filosofia espiritual de São Francisco de Assis, como mensageiro da harmonia, paz e concórdia.

3 - Em SONHO DE UM FUTURO QUE NÃO CHEGOU de 2001, o autor parafraseando o discurso de 28 de Agosto de 1963 proferido por Martin Luther King, Prémio Nobel da Paz: "I have a dream...", Delmar Maia Gonçalves, também revela-nos o seu universo irreal. Um sonho enigmático como Moçambique Novo:

"...

Tive um sonho
Em que os homens
Eram eleitos
Pelo seu valor e integridade.

Tive um sonho
Em que os desertos
Se tornaram férteis
Repletos de oásis.

Tive um sonho em que a realidade
De hoje se tornou
Um horror
E a utopia do futuro
Se tornou realidade.

Tive um sonho
Em que as fronteiras
Humanas
Se transformaram
Em infinitos rios
De arco-iris sem igual".

Mestre Lívio de Morais
(Artista Plástico e Professor de História de Arte)
Palácio Galveias/Lisboa, 23 de Junho de 2005.

Novo Encontro com Delmar



Amigos da poesia, dos livros e do Delmar Gonçalves reuniram-se na Livraria Mabooki (Lisboa) para conhecer o recente trabalho deste jovem autor moçambicano.
Von Trina, em representação da Editora, falou do livro enquanto produto, mas produto editorial e produto poético.
Jorge Viegas, Isabel carreira, Filipa e Von Trina leram alguns poemas para que o público pudesse encontrar-se com as palavras e as musicalidades.
No final, o autor falou de si e das motivações que o conduziram a juntar os seus poemas e a publica-los agora e sob o título “Moçambique Novo, o Enigma”.
Paula Ferraz, que prefaciou o livro, fez a apresentação:
“Caros Amigos,
Numa primeira leitura, uma leitura mais superficial, os poemas do Delmar podem considerar-se como meros exercícios poéticos sobre situações, circunstâncias ou factos vividos ou testemunhados pelo próprio.
Todavia, quando numa atitude mais atenta, nos concentramos neste livro, percebemos que a linguagem simples, visual, plasticizante, nos transporta para dramas, não (só) pessoais, mas acima de tudo, de todos nós. Porque como diz Mia Couto, “o mais importante não é o conteúdo literário, mas a forma como ele nos comove e ensina a entender não através do raciocínio, mas do sentimento”.
Num mundo global e globalizante, cada vez mais, cada um de nós se preocupa com o seu próprio umbigo, embora esteja sempre na primeira fila para apoiar campanhas de solidariedade, projectos de paz, campanhas de defesa dos Direito Humanos, etc., etc. No entanto, essas situações passam também e , dão, por vezes, lugar a outros sentimentos menos nobres.
Num dos recentes livros de Mia Couto pode ler-se “a poesia é um outro modo de pensar que está para além da lógica que a escola e o mundo moderno nos ensinam. É uma outra janela que se abre para estrearmos outro olhar sobre as coisas e as criaturas. Sem a arrogância de as tentarmos entender. Apenas com a ilusória tentativa de nos tornarmos irmãos do Universo”.
Nos poemas de Delmar, percebemos o quanto ele se preocupa com os outros, sejam seus irmãos de Moçambique, de Cabinda ou de Timor, da Palestina ou do Tibete, de Israel ou do Congo, da Serra Leoa ou do Afeganistão, da Colômbia ou do Iraque, da Libéria ou do Uganda, sejam as crianças, os heróis ou os amigos, mais ou menos anónimos.
Quando alguém nasce num país como Moçambique, nasce diferente, com uma alma diferente, redimensionando o Universo de outras formas.
É o marulhar do Índico que nos encanta, que se enlaça nas várias vozes que nos sussurram nestes poemas, que nos sibilam cantos de esperança, mesmo nos momentos mais difíceis, que nos dão lições de vida mesmo onde a morte espreita em muitos cantos.
É o cheiro da terra, que nos embriaga, que nos agarra, que nos fascina, que nos interpela.
O próprio título coloca-nos algumas questões, apresenta-nos algumas linhas de leitura. Através deste Moçambique Novo desembocamos num Enigma, que nos ajuda a questionarmo-nos, a conhecermo-nos a nós próprios: não se deve desdenhar a geografia, as viagens reais, mas a viagem mais importante será a viagem interior, ao universo dos nossos sentimentos.
Os poemas do Delmar estão urdidos numa linguagem simples, que todos entendem que fazem reflectir, embora tenhamos que reconhecer que qualquer forma de linguagem é muito pobre comparada com a complexidade das coisas que nos envolvem.
Camões, um dia, pediu à Tágides que lhe dessem um novo alento, uma nova inspiração para fazer um canto que mostrasse a grandiosidade dos feitos dos portugueses, embora conclua “se tão sublime preço cabe em verso”, isto é, dificilmente se podem reduzir os feitos de um povo a palavras, por melhores que elas sejam.
O Delmar apresenta temas simples mas profundos, aparentemente comezinhos mas fortes e as palavras escolhidas ao sabor da emoção, da consciencialização dos problemas que o cercam, vão tentando dar-nos todos os cambiantes da consciência humana, que são mais vastos que uma floresta tropical. Alguém um dia escreveu que o que acontece em dez minutos é algo que excede todo o vocabulário de Shakespeare. Delmar tenta, pelo pulsar da sua sensibilidade, guiar-nos até à resposta de um enigma, construir através das suas palavras, caminhos com sentidos diversos mas que desembocam num mundo outro que é o de todos nós.
Que cada um possa deliciar-se a ouvir o canto do xirico, e ganhar asas de sonho ou nostalgia, de liberdade ou de paz.
Que cada um possa saborear estes versos, encantar-se com estas histórias, sorrir com as pequenas brincadeiras de linguagem.
Que cada um possa encontrar o caminho da descoberta, de si e do mundo, dos problemas e das soluções, das tristezas e das alegrias.
Convido-vos a encetar esta viagem poética sempre embalados pela musicalidade das palavras do Delmar, para que possamos vir a ser companheiro de viagem e encontro de e com todas as criaturas que connosco partilham o Universo”.

Ana Luena
In www.africamente.com

sábado, 22 de agosto de 2009


Cartaz para o evento
"Traz um amigo também..."
No Chapitô em Lisboa
"Mas é doce morrer nesse mar de lembrar
e nunca esquecer
Se eu tivesse mais alma para dar, eu daria
Isso pra mim é viver"
Djavan

Um Pensamento Solar para Moçambique

Pensar que um país se reduz às suas fronteiras naturais e geográficas, torna-se nos dias que correm, um pensamento sufocante, superficial e pouco verdadeiro. Nos gestos escritos que esculpem memórias, vivências deixadas no país de origem, os nomes das paisagens que não se esquecem, os rostos que habitam as nossas identidades, emerge a força que as palavras possuem e rasgam no papel, divisões e distâncias. Os "Cadernos Moçambicanos Manguana" são a prova de que Moçambique renasce e se elasticiza, para além de uma história que nos diz desta terra como só existindo no continente africano. Mas, esta estória é falsa, e parcial. Ao caminhar ao longo de cada poema, de cada texto de que género seja, compilados neste recanto de vozes humanas, escutam-se os acordes de maturação, reflexão, e encanto que pensam Moçambique.
Aos que optaram por ficar, não obstante, os tempos turbulentos do pós-independência, deixa-se sempre uma recordação do antigamente, do que era e já não é. Para aqueles cujas opções de vida abriram portas para uma saída, para a escola da diáspora, e para o exílio nostálgico da solidez da terra natal, fica a espiritualidade, o desassossego, a enorme vontade de erguer pontes de diálogo, compreensão, ternuras e solidariedades.
`
É neste tecitura de gestos sólidos, de escritas que tecem coreografias sobre narrativas de vida e de identidade, que os "Cadernos Moçambicanos" exercem o seu maior papel, trazer para a luz do dia, para o terreno da pele mais nobre e humana, que Moçambique vive e pulsa em cada sentir, em cada olhar, em cada sonho que erguemos ao despertarmos para um novo dia de afazeres e desafios. Enfim, fazer aquilo que o Mais-Velho Craveirinha, hoje, se estivesse vivo, embevecidamente observaria, que a Nação que ele, poeticamente, sonhou, é maior que o Rovuma e o Maputo juntos.


Sheila Khan, uma moçambicana na diáspora
Knutsford, 19 de Outubro de 2006.

quinta-feira, 20 de agosto de 2009

Delmar,

Parabéns! Um escritor como tu fazia falta na web.

Um abraço,


Ângelo Rodrigues
(Escritor, Poeta, Filósofo, Professor, Artista Plástico e Director Literário da Editorial Minerva)
Lisboa, 2007

quarta-feira, 19 de agosto de 2009



Cartaz para o Recital
"Mestiçando com Arte"
No Restaurante Aquarela do Brasil em Paço de Arcos

Vera Novo Fornelos
(Poetisa e Artista Plástica)
Parede, Julho de 2009.

sábado, 15 de agosto de 2009

“Hmm, seems that you are on the verge of romanticized poetry….Reminds me of Gusmao….”

who is Gusmao? a poet? I know many but haven’t heard or read about this one. The one’s i most appreciate are Delmar Maia Gonçalves, a mozambican poet who seems to worship women as if they were Goddesses, even went to the point of dedicating a book to them. And the Other one is Fernando Pessoa, and his heteronyms, the man who ‘fealt’ with his head, he believed that poets had to refrain from using personal feelings or emotions as driving forces behind their work. it was the audience that had to feel something from the coherent texts they wrote.

“Don’t envy my temporal tyranny, you may be fond of gazing at me because of my morning maiden beauty but I assure you will ignore me when i turned to be the crone of the evening one day”

the most beautiful thing in the world, besides the birth of a child(although i might pass out while watching it, anyways it’s life happening, so it’s bound to be beautiful), is growing old with the person you love.
If i loved a woman and if we got married i’d always see her as the morning maiden beauty that we where when we first met. and besides growing old is part of life.


Blood Dancer
In http://www.factpile.com/taki-vs-diana-vs-kitana
3 de Agosto de 2009

terça-feira, 11 de agosto de 2009

Prezado Delmar Gonçalves,

Sou um poeta brasileiro. Descobri o seu blog, o seu email e o seu interesse ao literatura ao navegar pelo Blogspot.
Aí vai o meu endereço: http://poemargens.blogspot.com.
Quando puder, faça uma visita.

Abraços,

José António Cavalcanti
(Poeta, Contista e Professor)
Brasil, 20 de Maio de 2009

quinta-feira, 6 de agosto de 2009

O mestiço é a balança que equilibra e aproxima as diferenças entre dois povos com culturas diferentes. É o resultado de uma simbiose necessaria à evolução.





Vera Novo Fornelos

(Poetisa e Artista Plástica)

Viana do Castelo, 18 de Fevereiro de 2008

I Gala Kanimambo

Homenagem a antigos jogadores moçambicanos

A Câmara Municipal de Paços de Ferreira e a Casa de Moçambique em Portugal organizaram na passada quinta-feira a primeira edição da Gala Kanimambo e Jantar Moçambicano, onde foram presenteados antigos jogadores moçambicanos que representaram a selecção portuguesa no passado. O evento teve lugar na Casa do Campo, em Figueiró e iniciou por volta das 19h45.

Jogadores da selecção que ficou em terceiro lugar no Mundial de 1966, tais como, Vicente Lucas, Hilário da Conceição, Eusébio (não esteve presente por ser embaixador do Benfica e ter viajado com a equipa para Itália, para o jogo contra o Nápoles, da Taça UEFA), Ricardo Chibanga, Mário Coluna e Abdool Vakil (presidente da Comunidade Islâmica e do Banco Efisa) ganharam o prémio prestígio.

A homenagem a título póstumo coube a Matateu (recebeu Vicente Lucas, o qual protagonizou o momento mais alto da cerimónia. "Se ele estivesse vivo, estaria a agradecer-vos por este prémio", ressaltou, pedindo um minuto de silêncio em memória do jogador) e a Artur Meque (recebeu Jossias Filipe).

Também foram distinguidas com a homenagem Kanimambo algumas individualidades ligadas à cultura, economia e política, que, de algum modo, cooperaram para o crescimento da fraternidade entre Portugal e Moçambique: o Mestre Chichorro (recebeu Delmar Gonçalves); o membro do executivo e da Associação Empresarial, Abdool Vakil; TAP (recebeu Zaida Brook), Augusto Matine; Daode Faquira (ausente por se encontrar no banco de suplentes do Vitória de Setúbal no jogo contra o Heerenveen, da Holanda. Recebeu Augusto Matine) e Delmar Gonçalves.

A animação pertenceu a Genito e a Kalonga and The Ganza Farmer.

In Jornal Verdadeiro Olhar

Paços de Ferreira, 18 de Setembro de 2008.

Palestra Cadernos Moçambicanos Nº 3


Caros amigos



Em surpresa recebo um telefonema do amigo Delmar Maia Gonçalves convidando-me para fazer a apresentação do nº 3 dos CADERNOS MOÇAMBICANOS.


Eu? Porquê?


É evidente ser apreciador de literatura, de uma boa leitura, para a melhor abertura de espírito. Mas “crítico literário” não sou. Gosto ou não gosto e às vezes nem uma coisa nem outra: simplesmente não entendi. E por aí me fico.


Mas parece que a razão foi outra: a net e os blogs. Aí comecei a entender embora não ache razão suficiente.


Assim sendo aqui me encontro, não propriamente para uma crítica literária ao conteúdo deste Nº 3º dos CADERNOS MOÇAMBICANOS, o que ficará para cada um de vós, expressando eu apenas a minha alegria por partir de moçambicanos mais esta iniciativa.


Edição cuidada, já em forma de livro. Conteúdo agradável, textos ou poemas em sequência bem doseada, gostando ou entendendo uns mais ou melhor que outros.


Por tudo isto não vou comentar nenhum dos autores, alguns já com obra editada, mas falar um pouco da net e de como através dela conseguimos não só criar novos amigos, espalhados pelo mundo, mas levar até eles o que de melhor, e às vezes de pior, pode unir os homens ou mulheres deste mundo cada vez mais global.


Sabemos assim quase instantaneamente o que se passa em remotos lugares a milhares de quilómetros. Mas também conseguimos levar a todos , além de notícias, conhecimento. Conhecimento sem censura. Por isso usada para o melhor ou para o pior.


Reconhecendo no entanto que este “para o melhor ou pior” é relativo.


Estamos aqui naturais de lugares situados a milhares de quilómetros uns dos outros, com Bilhetes de Identidade que às vezes nada dizem quanto ao sentimento de nacionalidade que cada um apresenta. Mas há algo que nos une e aqui nos traz: a língua que falamos e em que comunicamos. E é assim que através dela nos entendemos, que trocamos ideias, que achamos confirmações às nossas dúvidas e partilhamos do que sabemos ou conhecemos. Não interessa agora a evolução histórica para que hoje existam vários países, dispersos por continentes, a falar português. Interessa apenas salientar que é por esse razão que se não diluíram os velhos laços de amizade nascidos nos territórios que já foram Portugal.


Mas não fora a internet, a sua manutenção seria difícil. E a aproximação e intensificação desse relacionamento também se não daria.


Não é a internet mais que um meio. Não um fim em si mesma.


E como fui eu parar à internet?


Em Fevereiro de 1995 estava arrumando umas quinquilharias e encontro duas caixas com muitas centenas de slides que trouxera de Moçambique. E pensei que quando me finasse aquele espólio seria metido a um canto ou até deitado ao lixo pois que meus filhos, não sendo propriamente imagens de família, por eles se não interessariam.


Já tinha ouvido falar da net mas nunca acedera a tal ferramenta. Com a ajuda de alguns amigos em Maio de 1995 tinha criado a minha primeira página na net a que dei o título de MACUA DA ILHA DE MOÇAMBIQUE, acrescentando alguns textos e depois algumas músicas, procurando que Moçambique fosse encontrado por esse mundo global.


Aprendendo e evoluindo consegui ter a página sobre Moçambique mais vista da net, recebendo contactos das mais variadas partes.


Foi em 2003 premiada por estar entre as 5% das páginas(sites) mais vistas no mundo, bem como pelo seu conteúdo, segundo um júri internacional. Mas o meu objectivo sempre foi colocar Moçambique no mundo.


Mas a página era de certa forma estática, tendo em 2004 criado o blog MOÇAMBIQUE PARA TODOS, como anexo ao MACUA DE MOÇAMBIQUE. Neste momento está com uma média de 1000 visitas diárias e já mais de 200 subscritores da sua newsletter diária. São notícias, comentários, vídeos e tudo o que mais consiga, essencialmente relacionado com Moçambique, procurando não esquecer o contexto em que as situações acontecem ou evoluem ou são influenciadas e aberta a todos os matizes políticos.


Felizmente que não sou único e nem fui o primeiro.


Hoje é fácil a qualquer pessoa ter um blog ou uma página. E é assim que uns fornecem os conteúdos e outros os digerem.


Mas é essencialmente por já hoje existirem alguns milhares de computadores ligados à net em Moçambique que a distância que deles nos separa a geografia se reduziu a alguns segundos.


São os grupos através do Yahoo ou MSN que se formam por localidades onde moraram ou escolas que frequentaram. São os grupos de interesse. Todos com residentes nos quatro cantos do mundo, como o Moçambique Online, com cerca de um milhar de inscritos, comunicando-se quase instantaneamente, quase diariamente.


E é através deste meio que os nossos povos (todos os que falam português), mais que os políticos, têm conseguido manter laços que de outra forma se perderiam ou seriam de difícil manutenção.


Criaram os políticos a CPLP e andam sempre inchados com a lusofonia em encontros, pouco mais que turísticos, de país para país, que fale português.


Mas importante é compreender que a construção da lusofonia não está nas mãos de um projecto integrador, nem de uma cartilha, nem de uma vanguarda política, nem dos seus profetas culturais.
As comunidades lusófonas formam uma rede entrosada de afectos, de objectivos políticos e de interesses e que se alimenta das liberdades das nações, das pessoas e das instituições.
Quem disse que a língua portuguesa foi "a melhor coisa que os portugueses nos deixaram" foi Amílcar Cabral, bem como outros dirigentes dos movimentos de independência, aliás ensinados em escolas cristãs baptistas anglófonas. Quem está contra a lusofonia não percebeu o mundo político da globalização; quem está a favor, está sempre a tempo de fazer qualquer coisa.


Ainda em 11 de Setembro passado Eduardo dos Santos afirmou:


“Devemos ter a coragem de assumir que a Língua Portuguesa, adoptada desde a nossa Independência como a oficial do país e que é hoje materna de mais de um terço dos cidadãos angolanos, se afirma tendencialmente como uma língua de dimensão nacional em Angola.”


E acrescentou:


“Isso não significa de maneira nenhuma, bem pelo contrário, que se deva alhear da preservação e constante valorização das diferentes Línguas Africanas de Angola, até aqui designadas de “línguas nacionais”, talvez indevidamente, pois quase nunca ultrapassam o âmbito regional e muitas das vezes se estendem para além das nossas fronteiras.”


Mas somos nós, assim o creio, que estamos a criar a verdadeira lusofonia. Até nem sei se será esta a melhor palavra para definir tudo o que nos une. E ninguém pode negar que é a partir de Lisboa que tal está a acontecer. Razões? As do coração, em essência. Políticos são políticos, mas povo somos nós.


E mais uma prova disso são estes CADERNOS CULTURAIS que agora lhes são apresentados.


Resta-me pois terminar, com os meus votos de sucesso ao CADERNOS MOÇAMBICANOS e aos seus promotores, pedindo desculpa pelo tempo que lhes roubei.


A todos os meu obrigado pela paciência que tiveram em me ouvir.




Fernando Gil


(Director do Website Macua)


Lisboa, 30 de Setembro de 2006

Ilustração:

"Cadernos Moçambicanos"

de Isabel Carreira

(Artista Plástica, Professora de Literatura Portuguesa e Inglesa e Mestre em Relações Interculturais)



CADERNOS MOÇAMBICANOS Nº 3

«A ideia de compilar estes 'Cadernos Moçambicanos', surgiu durante uma conversa com Jorge Viegas, na Embaixada de Moçambique, quando falávamos sobre a dificuldade que a maior parte dos escritores encontram para editar as suas primeiras obras», declarou ao Jornal Costa do Sol, Delmar Gonçalves, durante a apresentação dos Cadernos Moçambicanos Manguana 3 ".
«No início pensámos em coligir uma antologia de poetas moçambicanos, mas depois decidimos torná-la mais abrangente, editando autores de língua lusófona», acrescentou ainda o poeta que, nascido em Quelimane, habita há largos anos em Parede.
«Terceira etapa de uma caminhada que pretende ter continuidade» a antologia de poesia e prosa, que reúne trabalhos de autores moçambicanos, portugueses, angolanos e brasileiros, tem chancela da Sebenta.
A cerimónia decorrida no passado sábado, no auditório da Junta de Freguesia de São Domingos de Rana, incluiu a leitura de poemas e excertos de textos pelos seus autores, enquanto o director do site moçambicano Macua, Fernando Gil, apresentou os escritores, citando algumas notas biográficas.
Para além de Delmar Gonçalves, estiveram presentes, Jorge Viegas, Renato Graça, Carlos Gil, Jorge Chichorro Rodrigues, Manuel Matsinhe, Ana Loureiro, Nora Vilar, Luís Ferreira, Edmundo Verdades, Claudia Gomes, João Marafuga, Lúcia Lupenny Rodrigues, Maria José Peres, Paula Ferraz, Fernanda Maias, Maria Olga Santos e Penélope Rodrigues, assim como Filipa Gonçalves, a artista plástica responsável pela feitura da capa.
Registou-se ainda um momento musical, protagonizado por Dama Bete, tendo um "Porto de Honra", incentivado o convívio.

In JORNAL DA COSTA DO SOL – 05.10.2006

domingo, 2 de agosto de 2009

Delmar, que conto bacana... retratou bem o cotidiano q se repete e se repete... me lembrou o poema de Carlos Drummond: Cidadezinha Qualquer Casas entre bananeiras mulheres entre laranjeiras pomar amor cantar. Um homem vai devagar. Um cachorro vai devagar. Um burro vai devagar. Devagar... as janelas olham. Eita vida besta, meu Deus.