Em torno do verso: uma leitura do Mestiço de corpo inteiro, de Delmar Maia Gonçalves, a partir do que dizem seus paratextos
Stéphanie Paes
O texto não tem existência autônoma, ele “é composto por um mundo que ainda há de ser identificado e que é esboçado de modo a incitar o leitor a imaginá-lo e, por fim, a interpretá-lo.” É no e pelo ato de leitura que o arranjo proposto pelo autor se converte em sentido(s).
Entretanto, quando abrigado em um livro, não é apenas o texto do autor – a sequência de períodos, parágrafos, versos e estrofes que engendra, que aqui identificarei por texto autoral – que fornece ao leitor elementos para a construção de seu(s) sentido(s). “Um certo número de produções, verbais ou não” cerca o texto autoral “para apresentá-lo, [...] para torná-lo presente, para garantir sua presença no mundo, sua ‘recepção’”. Essas produções, às quais Gerard Genette dá o nome de paratextos, produzem “uma ação sobre o público, a serviço [...] de uma melhor acolhida do texto [autoral] e de uma leitura mais pertinente [...] aos olhos do autor e seus aliados”; e assim orientam, em certa medida, o processo de produção dos sentidos da obra. São títulos, ilustrações, capa, nome do autor, prefácio, posfácio, epígrafe, enfim, toda a informação que se encontra na periferia do texto autoral.
Com base nessas premissas, expõe-se uma leitura da obra Mestiço de corpo inteiro, de Delmar Maia Gonçalves, em edição de 2006 do Editorial Minerva, de Lisboa.
Percurso de leitura
O contato mais imediato com a antologia de poemas Mestiço de corpo inteiro, de Delmar Maia Gonçalves, já é bastante revelador do teor dos textos que se encontrará durante a leitura. Na capa da obra, título e ilustração disputam a atenção de quem a pega para ler e introduz um cenário de conflito, ou melhor, de crise.
Na parte superior da capa, logo abaixo do nome do autor – inscrito em letras capitais de corpo pequeno e cor preta, de uma fonte não serifada e delgada, o que lhe confere bastante suavidade – encontra-se o título Mestiço de corpo inteiro sobre um plano de fundo liso em tom de amarelo bem claro, no qual repousam todos os demais elementos da capa (nome do autor, ilustração, logotipo e nome da editora). Também inteiramente em letras maiúsculas, em uma fonte serifada ligeiramente robusta pela aplicação de negrito, o nome da obra, que à exceção da preposição de figura toda com corpo de mesmo tamanho, aparece em um tom de azul ligeiramente escuro e bem suave.
É significativo observar que as cores utilizadas para o fundo da capa e o título da obra são complementares, ou seja, opostas, altamente contrastantes. Colocá-las lado a lado produz um efeito harmônico que ao mesmo tempo contém uma tensão, pela oposição das cores. Este mesmo efeito será reproduzido na imagem da capa, da qual se falará adiante. Passando do aspecto formal para o discursivo, tem-se no título da obra a figura do mestiço, um indivíduo fruto da mistura de raças, que, ao afirmar-se “mestiço de corpo inteiro” aponta para sua identificação total com esta condição, um sujeito integralmente miscigenado em sua percepção de si mesmo, uma mistura perfeita e total de diferenças.
Em contrapartida, visualizando-se a pintura de David Levy Lima que ilustra a capa (e, por extensão, a essência do livro, assim como o título resume a essência da mensagem que se propõe passar através dele), percebe-se a figura de um mestiço, por seus traços característicos, que, em oposição ao dito no título, aparece cindido por um efeito de sombra: o lado direito, iluminado e, portanto, mais claro, e o lado esquerdo, enegrecido pela sombra. A projeção dessa sombra produz um sujeito divido, bipartido, situação que associada à sua condição de mestiço, pode-se interpretar como a cisão dos elementos que geram esta mestiçagem (elementos negro e branco, no caso) e a irreconciliabilidade dessas duas metades que formam o sujeito em questão, ainda que a cisão não seja total, uma vez que as partes se interpenetram em certa medida. O emprego de cores complementares na composição da imagem (tons de amarelo, laranja e azul) contribuem para o efeito de oposição.
Ainda, o confronto da imagem com o título contribui para este efeito de contraste: um sujeito que se afirma mestiço em sua integralidade e um que não consegue estabelecer esta fusão, indicando, possivelmente, que este sujeito vive o conflito entre se afirmar mestiço e a impossibilidade de fazê-lo efetivamente. O uso de uma sombra para estabelecer a divisão na imagem e o aspecto aparentemente melancólico do sujeito retratado reforçam esta crise. Mas o que a provocaria? O que impediria este indivíduo de viver sua mestiçagem em sua plenitude?
Ainda que o sumário não seja de leitura obrigatória e costume ser consultado apenas quando se precisa encontrar um ponto específico do texto, é relevante analisar o desta obra de Delmar Maia Gonçalves, pois ele apresenta características peculiares. Assim como os títulos dos poemas e de outras produções pré e pós-textuais que se costuma ver em sumários, embora com variações de obra a obra (prefácio, biografia, posfácio...), figuram no sumário de Mestiço de corpo inteiro, e em mesmo nível hierárquico dos poemas, as epígrafes, identificadas como “citações”, e as ilustrações de Isabel Carreira e Filipa Gonçalves. Pode-se supor, a partir da observância desse fato, que essas produções paratextuais têm o mesmo peso dos poemas para a leitura do livro, isto é, elas significam tanto quanto os versos.
Após alguns pré-textuais que não serão abordados aqui, encontram-se as epígrafes, 10 no total, duas do próprio autor. O conteúdo dessas epígrafes (salvo a segunda, que parece uma análise crítica, possivelmente da poética do artista) parece demonstrar posturas ideológicas e/ou reflexões filosóficas sobre temas como a existência, o pertencimento, as relações humanas e a mestiçagem. “Duas coisas indicam fraqueza: calar-se quando é preciso falar e falar quando é preciso calar-se” (provérbio persa) e “a alma multiculturalista, espiritualmente superior, acabará por fazer entender todos os homens e nações” (Kumarka Prakhasmani) são duas delas. É ainda significativo observar as diversas origens desses discursos: um provérbio persa, versos de poetas de culturas e origens diversas, citações de um cientista, de um sociólogo, enfim, discursos de vários cantos do mundo, ocidentais e orientais, congregados num mesmo espaço, como no intuito de celebrar, através dessa seleção, o multiculturalismo defendido por Prakhasmani.
Uma das funções da epígrafe consiste em traçar “um comentário do texto [autoral], cujo significado ela precisa ou ressalta indiretamente.” Considerando-se as impressões provocadas pela capa, lê-se a sequência de epígrafes do livro como prenúncio do que se encontrará ao se avançar na leitura, como sugere a citação da jornalista Rita Pablo: “uma vontade gritante de dar sentido à mestiçagem”. Não demorará muito para que esta suspeita seja confirmada pelos poemas.
Ainda que trate de outras temáticas, como a mulher, a “mátria” Moçambique, a ancestralidade e mesmo a escravidão, a questão central do livro Mestiço de corpo inteiro é o conflito de um homem com sua condição de mestiço, a busca por encontrar o seu lugar, seu pertencimento em um mundo de grupos tão bem definidos: “Não sabia que/ para me reivindicar/ de um berço/ tinha de ter/ uma certa cor/ convencionada/ pelos homens.”
O primeiro poema do livro introduz poeticamente sua situação de instabilidade identitária. O eu-lírico, classificando-se como “Náufrago africano”, título do poema, declara: “Sou um náufrago/ em busca/ de porto seguro”. O náufrago é um indivíduo que não chegou em terra firme, que se encontra à deriva. Sendo a terra um signo de pertencimento, de enraizamento, estar à deriva é não pertencer a lugar algum. A brevidade do poema e mesmo dos versos individualmente, associado ao seu conteúdo, produzem um tom de desabafo melancólico de um homem que procura seu lugar. Quando se coloca em diálogo este poema com a epígrafe de Séneca, “quando um homem não sabe a que porto se dirige, nenhum vento lhe é favorável”, pode-se apreender que a busca deste homem por seu pertencimento deve ser interior, que quando encontrá-lo dentro de si as condições de sua inclusão no grupo se tornarão favoráveis. Será?
O que se observa ao se avançar pela obra de Delmar Maia Gonçalves é a árdua luta de um sujeito para unificar a multiplicidade que constitui a sua mestiçagem, a fim de apaziguar as polaridades que o impedem de se constituir em ser integral, em mestiço de corpo inteiro.
Nesse sentido a imagem, de Isabel Carreira que se encontra na página 19 é emblemática. Nela, os contornos de dois indivíduos idênticos, um negro e um branco, se olham e se dão as mãos. Em contrapartida, seus pés estão voltados para trás. Percebe-se por esta imagem a irreconciliabilidade dos elementos negro e branco na formação identitária do indivíduo, que se esforça para unir os dois elementos (mãos dadas), mas se depara com a recusa desses elementos em se mesclarem (pés voltados para trás). A imagem pode conotar também a tentativa de promover a igualdade entre opostos, defendida em alguns poemas.
A busca por se constituir “mestiço de corpo inteiro” se dá, nos poemas do escritor moçambicano, em dois movimentos principais e conflitantes, ainda que cheios de nuances, como acontece em toda grande questão humana: por um lado, o eu-lírico afirma sua mestiçagem, lutando pela mútua compreensão entre os diversos povos do mundo e pela aceitação de negros e brancos de sua condição de mestiço; por outro, vive a crise identitária de ser mestiço, de não poder escolher um lado e, portanto, não pertencer a nenhum. Ao mesmo tempo em que se defende enquanto “mestiço de corpo inteiro”, frase dita não só no título como em mais de um poema, sente-se incomodado com a sua condição e questiona com frequência sua identidade. Entretanto, respondendo à questão feita acima quanto a se a descoberta de seu pertencimento dependeria de um esforço interior do indivíduo, o que se percebe na poesia de Delmar Maia Gonçalves é que a sensação de deslocamento sentida por seu eu-lírico seria mais fruto das pressões dos grupos circundantes para que este “escolha um lado”, que, evidentemente, ele não pode escolher, da rejeição dos outros da sua condição de mestiço do que propriamente por uma falta por parte do eu-lírico de aceitar a si mesmo. Ele, enquanto “mestiço de corpo inteiro”, mistura integral de etnias e culturas, não pode pertencer se o mundo estiver cindido e reivindicar essa cisão.
Ainda que não haja uma divisão explícita entre os dois movimentos principais do eu-lírico no livro, é perceptível uma concentração, em sua primeira parte, de poemas que defendam e exaltem a mestiçagem. Em “And I am who I am”, primeiro poema que trata explicitamente da questão da mestiçagem, o eu-lírico se declara mais do que híbrido de branco e negro (“hybrid from black and white”), talvez um indivíduo regido pela lei dos opostos (“Perhaps I am ruled by/ The law of oposites”) ou uma simbiose de antíteses (“a symbiosis of antithesis”). Ainda que o autor afirme a sua individualidade, o emprego de um advérbio de dúvida (talvez) aponta para a busca, empreendida pela voz do poema, por se definir enquanto indivíduo. Espelhado a este poema encontra-se “L’énigme”, que já traz o índice da dúvida em seu título. No poema o autor denuncia o olhar enviesado do outro para si (“Je suis un noir pour les blancs/ Et blanc pour les noirs”) , mas se defende dizendo ser apenas um mestiço, uma adição de negro e branco (“Je sais seulement qui je suis un métis/ [...] Une addition de noir et blanc”.
Curioso perceber que há poemas em três línguas no livro de Delmar Maia Gonçalves. Essa opção descentraliza o discurso e sugere uma universalidade da questão da mestiçagem, e ainda ajuda a reforçar a hibridização do eu-lírico, que escreve para o seu Eu “que é vários Eus”, se quisermos pensar na voz do livro como sendo una. Mais ao final do livro leem-se as versões em português desses dois poemas: “E eu sou eu”, página 62, acompanhado do retrato de um mestiço, e “O enigma”, na página 71.
Em “O inevitável”, defende-se de acusações afirmando não ter culpa de “ter nascido mulato”, de ser “fruto do pecado de um amor proibido”. “Mulato sou, mulato serei!”, conclui ele; afinal, como lembra em “Dança ancestral da alma”, não pode renunciar a sua ancestralidade: “porque não posso jamais renegar um pouco que seja dos meus glóbulos/ sanguíneos negróides e caucasoides”.
Na página 6, um desenho de Filipa Gonçalves ilustra bem a força dessa herança. Nela vê-se o que parece ser uma cabeça de tripla face: ao centro, meio rosto de um mestiço; no lado esquerdo, o perfil do rosto de um negro; à direita, o perfil de um rosto branco. Observa-se ainda, semifundido entre o rosto negro e o mestiço um berimbau, e entre este segundo rosto e o branco, um violino, talvez apresentando o elemento cultural como importante mantenedor dos vínculos do mestiço com sua ancestralidade.
Em um segundo momento da obra tornam-se mais recorrentes os poemas que abordam o conflito de ser mestiço, tanto no que diz respeito à não aceitação desses sujeitos por parte dos grupos étnicos que dão origem à mistura, quanto ao conflito identitário que sofrem esses sujeitos como consequência dessa rejeição.
Em “Zé Pecado e o dueto preto e branco”, o eu-lírico, que tem em sua pele e em seu nome (sua identidade) a marca do “pecado de um amor proibido” de que fala a voz de “O inevitável”, tenta se aproximar dos negros e é rechaçado: “— Sai daqui seu misto sem bandeira!” Tenta, então, estabelecer relações com os brancos, mas recebe o mesmo tratamento: “— Sai daqui seu preto, sai daqui seu preto!” Jamusse, no poema que leva o seu nome, tenta fazer o mesmo movimento, e também é rejeitado: “Vozes de Brancos e Negros/ vozes de raiva e ódio/ Gritos coléricos surgiram/ Vai-te embora misto aborrecido!/ Vai-te embora misto sem bandeira!/ Vai-te embora preto!/ Vai para a tua Terra!” Mas qual seria a sua Terra?
A ilustração de Filipa Gonçalves que se encontra à página 45 do livro é icônica desse processo de rejeição. Ao centro se observa a imagem de um mestiço com feição séria, em traços bem realistas; à direita, rostos brancos, em traços menos realistas, olham para o mestiço com feições desfiguradas de ódio e reprovação, com feições que se assemelham a carrancas; à esquerda, rostos traçados com mesmo estilo, porém negros, também se voltam para o mestiço com expressões furiosas. A imagem demonstra bem a rejeição sofrida por um mestiço pelos membros das raças que fazem parte da sua constituição ante a impossibilidade de tal indivíduo escolher um lado e, consequentemente, integrar um desses grupos.
Sem conseguir encontrar o seu lugar de pertencimento, desabafa em “Mestiço”: “Que condição/ esta de ser o/ que sou...!/ Para ser africano pleno/ tenho de admitir ser/ o que não sou/ Para ser europeu de corpo/ inteiro/ tenho de fingir e/ procurar ser o que/ não sou.” “Não há drama maior/ que viver com a tristeza/ da rejeição”, arremata em “O mestiço”.
É imperativo que se escolha um lado. É impossível escolher um lado. Diante deste dilema insolúvel, uma das saídas do eu-lírico é ironizar a situação a que os outros o submetem: “Que sociedade teria/ espaço para um banido?/ [...] E por isso vos peço, por favor/ brancos e negros!/ Decretem o fim dos mestiços/ Promulguem e aprovem a lei/ anti-mestiçagem!/ Mas céus! Não sem antes/ exterminarem os seus criadores!”
Mas esse gesto crítico não é suficiente para resolver sua crise identitária. Procura, então, encontrar sua identidade na pátria, grupo do qual pode pertencer à despeito de sua cor: “Na minha Pátria/ não há pretos nem brancos/ há Moçambicanos.// Na minha Pátria/ não há mestiços/ há Moçambicanos.// [...] E Moçambicano/ é aquele que/ sente o pulsar da/ pátria,/ Moçambicano/ é aquele que a vive.” O fato de escrever moçambicano e pátria com iniciais maiúsculas, enquanto os outros grupos (pretos, brancos, mestiços...) têm seus nomes grafados com inicial minúscula denota a superioridade da pátria e da “moçambiquedade” sobre os segmentos étnicos.
Entretanto, em poemas seguintes, o conflito identitário do eu-lírico reaparece, e ele percebe inclusive que sua “africanidade” e “moçambiquedade” teriam de ser defendidas, não dos brancos, não dos negros, mas dos povos de outras nações, possivelmente de outras nações lusófonas, e conclui: “Ninguém compreende/ Minha singularidade”.
Tenta, então, uma última cartada, defendida na epígrafe de Kumarka Prakhasmani, qual seja, a multiculturalidade: “Não nos podemos dividir mais,/ porque somos resultado/ da multiplicação/ que resulta em humanidade”, reflete em “Mestiçagem”. E afirma no poema que dá título ao livro: “Sou mestiço sim/ mestiço de corpo inteiro/ mestiço no espírito e na carne/ mestiço das Áfricas, das Américas,/ da Ásia, da Oceania, mestiço das Europas/ mestiço do mundo, mestiço do mundo inteiro”.
De qualquer forma, embora a crença na multiculturalidade possa resolver sua relação consigo mesmo, sua crise identitária não fica de todo sanada, permanecendo em suspenso o dilema do seu pertencimento, em uma terra onde “os homens/ se excluem/ conforme as conveniências.” Permanece, assim, o eu-lírico à deriva, “em busca de porto seguro”...
Antes de fechar o livro...
O texto forjado por um autor é um esboço de “um mundo que ainda há de ser identificado”, imaginado e interpretado por outra instância, o leitor, a quem cabe a decisão de concluir a tarefa ou deixá-la em aberto.
Quando se trata de um mundo encerrado em um livro, gira em torno dele uma série de produções textuais, verbais ou não, que interferem no jogo entre o autor e o leitor, fornecendo a esse último elemento que, tendo ele consciência ou não, o ajudarão a dar os retoques finais na obra rascunhada pelo autor: são os paratextos, segundo termo cunhado por Gerard Genette.
Em Mestiço de corpo inteiro, os paratextos que circundam os versos de Delmar Maia Gonçalves, desde a capa às ilustrações internas, estão engajados em criar o clima de tensão que ecoa nos poemas. Do jogo de oposição de cores e discursos da capa, passamos para uma lista de epígrafes com teor ideológico que prenunciam as teses que serão defendidas pelo(s) eu-lírico(s) dos textos poéticos. As ilustrações reproduzem, em outra linguagem, a crise identitária vivenciada pelo(s) mestiço(s) que fala(m) na obra. Por fim, embora fora da ordem de sua recepção, o título da obra e também os de vários poemas (“Mestiço”/”Metisse”, “Mestiçagem”, “Ser mestiço é...”, entre outros) centram a temática da obra na questão da mestiçagem.
Todos esses elementos direcionam a leitura para um caminho, que talvez confirme, ou amplie, ou reduza as possibilidades de leitura que o texto sozinho incitaria. Qual seria a recepção dos poemas se eles estivessem livres de todo esse aparato? Esta também é uma questão insolúvel, uma vez que já se teve contato com os paratextos da obra. Esses instrumentos podem até limitar as possibilidades de leitura, mas certamente não as encerram. Há ainda textos outros, extralivro, que dizem respeito a cada leitor, e a um mesmo leitor em momentos distintos, que fazem válida a premissa: “há tantas leituras quantos são os leitores”. Esta aqui é apenas uma.
Referências
Textos teóricos
GENETTE, Gérard. As epígrafes. In: ______. Paratextos editoriais. Tradução de Álvaro Faleiros. Cotia, SP: Ateliê Editorial, 2009. p. 131-144. (Artes do Livro, 7)
GENETTE, Gérard. Introdução. In: ______. Paratextos editoriais. Tradução de Álvaro Faleiros. Cotia, SP: Ateliê Editorial, 2009. p. 9-20. (Artes do Livro, 7)
ISER, Wolfgang. O jogo do texto. In: LIMA, Luiz Costa (Org.). A literatura e o leitor: textos de estética da recepção. 2. ed. rev. ampl. Rio de Janeiro: Paz e Terra, 2011. p. 105-118.
MARTINS, Maria Helena. O que é leitura. São Paulo: Brasiliense, 2007. (Primeiros Passos)
Textos literários
GONÇALVES, Delmar Maia. And I am who I am. In: ______. Mestiço de corpo inteiro. Lisboa: Editorial Minerva, 2006. p. 22.
GONÇALVES, Delmar Maia. Dança ancestral da alma. In: ______. Mestiço de corpo inteiro. Lisboa: Editorial Minerva, 2006. p. 29.
GONÇALVES, Delmar Maia. Jamusse. In: ______. Mestiço de corpo inteiro. Lisboa: Editorial Minerva, 2006. p. 60.
GONÇALVES, Delmar Maia. L’énigme. In: ______. Mestiço de corpo inteiro. Lisboa: Editorial Minerva, 2006. p. 23.
GONÇALVES, Delmar Maia. Mestiçagem. In: ______. Mestiço de corpo inteiro. Lisboa: Editorial Minerva, 2006. p. 49.
GONÇALVES, Delmar Maia. Mestiço de corpo inteiro. In: ______. Mestiço de corpo inteiro. Lisboa: Editorial Minerva, 2006. p. 61.
GONÇALVES, Delmar Maia. Mestiço. In: ______. Mestiço de corpo inteiro. Lisboa: Editorial Minerva, 2006. p. 59.
GONÇALVES, Delmar Maia. Moçambique moçambicano. In: ______. Mestiço de corpo inteiro. Lisboa: Editorial Minerva, 2006. p. 75.
GONÇALVES, Delmar Maia. Monólogo de um mestiço. In: ______. Mestiço de corpo inteiro. Lisboa: Editorial Minerva, 2006. p. 43.
GONÇALVES, Delmar Maia. Náufrago africano. In: ______. Mestiço de corpo inteiro. Lisboa: Editorial Minerva, 2006. p. 17.
GONÇALVES, Delmar Maia. O berço. In: ______. Mestiço de corpo inteiro. Lisboa: Editorial Minerva, 2006. p. 76.
GONÇALVES, Delmar Maia. O enigma. In: ______. Mestiço de corpo inteiro. Lisboa: Editorial Minerva, 2006. p. 71.
GONÇALVES, Delmar Maia. O inevitável. In: ______. Mestiço de corpo inteiro. Lisboa: Editorial Minerva, 2006. p. 26.
GONÇALVES, Delmar Maia. O mestiço. In: ______. Mestiço de corpo inteiro. Lisboa: Editorial Minerva, 2006. p. 47.
GONÇALVES, Delmar Maia. Singularidade africana. In: ______. Mestiço de corpo inteiro. Lisboa: Editorial Minerva, 2006. p. 83.
GONÇALVES, Delmar Maia. Zé pecado e o dueto preto e branco. In: ______. Mestiço de corpo inteiro. Lisboa: Editorial Minerva, 2006. p. 55.
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