O Governo
de Moçambique ratificou o AO em 2012. Essa posição teve em conta a Presidência
da CPLP que o país assumiu. De resto é a posição do Governo Moçambicano de que
os moçambicanos falam português, mas com características muito próprias, tendo
em conta o grande peso das chamadas línguas nacionais. Na perspectiva deste
Governo haverá também aqui imenso trabalho a fazer entre a ratificação do AO já
feita e a plena entrada em vigor do mesmo. Sendo preciso clarificar a dimensão
total e global das implicações de natureza não só financeira, como também,
organizativa e operativa da língua.
2 - Há oposição significativa ao AO em Moçambique?
Se
considerar os escritores, poetas, jornalistas, professores de todos os níveis
de ensino, formadores, educadores, investigadores, linguistas, artistas
plásticos e alguns políticos moçambicanos significativos, então sim, é muito
significativa a oposição. Depois, não se pode esquecer toda a massa intelectual
moçambicana nas várias diásporas. Para além das vozes que se erguem, há ainda
muitas vozes silenciosas.
3 - Qual é a opinião do senhor sobre as novas regras adotadas pelo AO?
A minha
posição é clara. Sou absolutamente contra o AO, digo mais: repudio-o! Este
acordo nem sequer tem em conta a realidade específica de Moçambique, é um
acordo meramente de cariz económico-financeiro, que não respeita as
especificidades culturais dos diversos países da CPLP (africanos e
Timor-Leste).
4 - Na opinião do senhor, o AO leva em conta as diferenças culturais entre os diversos países falantes de Português?
Na minha
opinião, não leva em conta, nem respeita as diferenças culturais e linguísticas
dentro do espaço da CPLP. Além da língua portuguesa, quantas línguas mais se
falam na Guiné-Bissau? Quantas línguas mais se falam em Angola? Quantas línguas
mais se falam em Moçambique? Quantas línguas se falam em São Tomé e Príncipe,
Cabo Verde ou Timor –Leste?
Alguém
teve em conta que em alguns destes países a padronização destas línguas estava
ainda em curso ou, em alguns casos, não se tinha ainda iniciado? E a
alfabetização que decorria terá que ser feita em novos moldes?
5 - O AO facilita ou dificulta o ensino da língua em Moçambique?
Se fala
do ensino na língua portuguesa, eu diria pessoalmente, que dificulta. Porquê?
Porque a formação ainda é deficitária. Muita gente já sentia dificuldades na
norma anterior da escrita e da fala e estava ainda num processo de
consolidação. Com o novo AO todo o trabalho feito, que foi muito e
significativo, vai por água abaixo. Quem domina a língua portuguesa,
actualmente, precisa de formação e até que, o domínio da nova norma seja
efectivo, isso levará quanto tempo? Moçambique ainda tem falta de quadros na
educação e os que há, apresentam algum défice de formação contínua, salvo uma
relativa minoria e precisaremos de formadores em todas as áreas e sectores de
actividade da sociedade, não só de educação. Quem, como e quando serão
formados? E por quem? Quantos especialistas do novo AO há disponíveis para ir
formar Moçambique de norte a sul? E quem lhes irá financiar?
Outro
facto a ter em conta, como atrás referi, será o da padronização das outras
línguas faladas em Moçambique. Já existem aulas experimentais de alfabetização
nalgumas línguas nacionais e outras ainda em processo de estudo. Como ficará
tudo isto? Pergunto-me se tiveram em conta todos estes factores?
E os
manuais escolares moçambicanos serão produzidos por quem? Quem os financiará?
Onde serão editados e quem serão os seus autores? Em quanto tempo será feito
tudo isto? Quem irá financiar e apetrechar as bibliotecas nacionais, locais e
escolares, que ainda recebem livros com a norma anterior e que muito se
lamentam da falta de livros técnicos e não só?
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