quinta-feira, 27 de agosto de 2009

Novo Encontro com Delmar



Amigos da poesia, dos livros e do Delmar Gonçalves reuniram-se na Livraria Mabooki (Lisboa) para conhecer o recente trabalho deste jovem autor moçambicano.
Von Trina, em representação da Editora, falou do livro enquanto produto, mas produto editorial e produto poético.
Jorge Viegas, Isabel carreira, Filipa e Von Trina leram alguns poemas para que o público pudesse encontrar-se com as palavras e as musicalidades.
No final, o autor falou de si e das motivações que o conduziram a juntar os seus poemas e a publica-los agora e sob o título “Moçambique Novo, o Enigma”.
Paula Ferraz, que prefaciou o livro, fez a apresentação:
“Caros Amigos,
Numa primeira leitura, uma leitura mais superficial, os poemas do Delmar podem considerar-se como meros exercícios poéticos sobre situações, circunstâncias ou factos vividos ou testemunhados pelo próprio.
Todavia, quando numa atitude mais atenta, nos concentramos neste livro, percebemos que a linguagem simples, visual, plasticizante, nos transporta para dramas, não (só) pessoais, mas acima de tudo, de todos nós. Porque como diz Mia Couto, “o mais importante não é o conteúdo literário, mas a forma como ele nos comove e ensina a entender não através do raciocínio, mas do sentimento”.
Num mundo global e globalizante, cada vez mais, cada um de nós se preocupa com o seu próprio umbigo, embora esteja sempre na primeira fila para apoiar campanhas de solidariedade, projectos de paz, campanhas de defesa dos Direito Humanos, etc., etc. No entanto, essas situações passam também e , dão, por vezes, lugar a outros sentimentos menos nobres.
Num dos recentes livros de Mia Couto pode ler-se “a poesia é um outro modo de pensar que está para além da lógica que a escola e o mundo moderno nos ensinam. É uma outra janela que se abre para estrearmos outro olhar sobre as coisas e as criaturas. Sem a arrogância de as tentarmos entender. Apenas com a ilusória tentativa de nos tornarmos irmãos do Universo”.
Nos poemas de Delmar, percebemos o quanto ele se preocupa com os outros, sejam seus irmãos de Moçambique, de Cabinda ou de Timor, da Palestina ou do Tibete, de Israel ou do Congo, da Serra Leoa ou do Afeganistão, da Colômbia ou do Iraque, da Libéria ou do Uganda, sejam as crianças, os heróis ou os amigos, mais ou menos anónimos.
Quando alguém nasce num país como Moçambique, nasce diferente, com uma alma diferente, redimensionando o Universo de outras formas.
É o marulhar do Índico que nos encanta, que se enlaça nas várias vozes que nos sussurram nestes poemas, que nos sibilam cantos de esperança, mesmo nos momentos mais difíceis, que nos dão lições de vida mesmo onde a morte espreita em muitos cantos.
É o cheiro da terra, que nos embriaga, que nos agarra, que nos fascina, que nos interpela.
O próprio título coloca-nos algumas questões, apresenta-nos algumas linhas de leitura. Através deste Moçambique Novo desembocamos num Enigma, que nos ajuda a questionarmo-nos, a conhecermo-nos a nós próprios: não se deve desdenhar a geografia, as viagens reais, mas a viagem mais importante será a viagem interior, ao universo dos nossos sentimentos.
Os poemas do Delmar estão urdidos numa linguagem simples, que todos entendem que fazem reflectir, embora tenhamos que reconhecer que qualquer forma de linguagem é muito pobre comparada com a complexidade das coisas que nos envolvem.
Camões, um dia, pediu à Tágides que lhe dessem um novo alento, uma nova inspiração para fazer um canto que mostrasse a grandiosidade dos feitos dos portugueses, embora conclua “se tão sublime preço cabe em verso”, isto é, dificilmente se podem reduzir os feitos de um povo a palavras, por melhores que elas sejam.
O Delmar apresenta temas simples mas profundos, aparentemente comezinhos mas fortes e as palavras escolhidas ao sabor da emoção, da consciencialização dos problemas que o cercam, vão tentando dar-nos todos os cambiantes da consciência humana, que são mais vastos que uma floresta tropical. Alguém um dia escreveu que o que acontece em dez minutos é algo que excede todo o vocabulário de Shakespeare. Delmar tenta, pelo pulsar da sua sensibilidade, guiar-nos até à resposta de um enigma, construir através das suas palavras, caminhos com sentidos diversos mas que desembocam num mundo outro que é o de todos nós.
Que cada um possa deliciar-se a ouvir o canto do xirico, e ganhar asas de sonho ou nostalgia, de liberdade ou de paz.
Que cada um possa saborear estes versos, encantar-se com estas histórias, sorrir com as pequenas brincadeiras de linguagem.
Que cada um possa encontrar o caminho da descoberta, de si e do mundo, dos problemas e das soluções, das tristezas e das alegrias.
Convido-vos a encetar esta viagem poética sempre embalados pela musicalidade das palavras do Delmar, para que possamos vir a ser companheiro de viagem e encontro de e com todas as criaturas que connosco partilham o Universo”.

Ana Luena
In www.africamente.com

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